quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Portão de desembarque


Era uma aglomeração de gente, indo e vindo, quase um tumulto que contrastava com a voz calma que percorria todo o aeroporto anunciando o próximo vôo. Em frente ao portão de desembarque, em meio a outros ansiosos, lá estava Aprendiz levantando e abanado a mão para ser notado entre as diversas mãos saculejantes e gritos de alegria:

APRENDIZ: Aqui, Agente!

Com um daqueles carrinhos de aeroporto, Agente vinha carregando sua bagagem e, no rosto, carregava um grande sorriso fraterno e acenou de volta para Aprendiz.

AGENTE: Olá meu grande amigo, quanto tempo hein?!
APRENDIZ: Muito tempo mesmo, mais de ano. Creio que tem muita novidade para contar, vejo que traz muita bagagem dessa viagem.
AGENTE: Sim, muita coisa aconteceu nesse tempo. Muitas férias e muitos trabalhos, mas depois disso tudo me lembrei que deveria voltar. Trago algumas idéias na bagagem.
APRENDIZ: Idéias e que mais? Se trouxe idéias sem ações, na verdade você trouxe uma grande mala vazia.
AGENTE: Fique calmo! Trouxe muitas idéias boas e grandiosas.
APRENDIZ: Sem ações, são só grandes malas com nada. Sem ações, antes fosse uma mala pequena que pelo menos ia ocupar menos espaço.
AGENTE: Relaxa! Deixe pelo menos eu terminar de chegar para começar essas tais benditas ações.
APRENDIZ: Não relaxo. Na verdade você também deveria não relaxar. Esse relaxamento é o que te conduz à ociosidade. E o tempo continua passando.


Calaram-se por algum tempo. Agente sabe que não pode se dar o privilégio de esperar. A vida é unitária e há muito o que fazer, seja por necessidade, altruísmo ou prazer.

AGENTE: Eu sei disso tudo, por isso estou de volta.
Quase chegando ao elevador, uma voz rompe o corredor do aeroporto como porta rangendo:

BARBICHA: Vejam só se não é o Agente! Quanto tempo, como você está diferente.
AGENTE: Por que está surpreso? Eu sei que por diversas vezes você esteve próximo a mim todo esse tempo, infelizmente.
BARBICHA: Hahaha é engraçado ver você reconhecendo que não consegue se livrar de mim.
APRENDIZ: Você acha? Para mim, saber a distinção entre o bem e o mau é um ótimo caminho para manter-se longe de você.


Barbicha virou o rosto para o lado e resmungou sozinho sobre alguma coisa.

APRENDIZ: Agora vamos, Agente. Teu emprego, tua família, teus amigos e uma bela garrafa de vinho te esperam.
BARBICHA: Deixa o cara descansar antes, deve estar cansado da viagem.
AGENTE: Realmente estou cansado, mas vida é para ser gasta e não para guardar. Vou de encontro à todos porque o tempo continua passando. Vamos, Aprendiz.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Pequena saga da trilha (final)


Andavam pelo córrego procurando ter cuidado com as pedras escorregadias e traiçoeiras. Mesmo assim, com frequência escorregavam. Quando estavam quase terminando o percurso, Aprendiz grita pq torceu seu pé prendendo-o entre umas pedras.

AGENTE: Aprendiz!! Calma, tenta se soltar das pedras com cuidado.
BARBICHA: Não há tempo para isso. Deixa ele aí, não esqueça que deve cumprir seu objetivo até as 18h.
AGENTE: Não está falando sério né?
APRENDIZ: Ele está certo. Sigam sem mim pq já ñ resta mto tempo. Qdo eu conseguir sair desse vale eu vou atrás de vcs. Aqui está o mapa, Agente.


Agente e Barbicha seguiram em frente deixando Aprendiz no Vale dos Mil Dragões. Algum tempo depois avistaram o mirante no cume de um rochedo, havia um farol deixando o mirante mais evidente e luzes saindo de dentro de uma casa mostrando haver pessoas por lá. Não havia qualquer caminho para se chegar ao destino, apenas o rochedo de uns 20m de altura com o mirante em cima. Agente pegou o mapa para conferir e realmente ñ tinha caminho, aparentemente, o jeito era escalar o rochedo.

BARBICHA: Percorrer tudo isso pra dar de cara numa rocha?? Devia pelo menos deixar algum equipamento de escalada.
AGENTE: Eu ñ entendo... Deve haver alguma explicação...
BARBICHA: A explicação é q isso tudo é uma grande piada de mal gosto. Chegamos até aki para descobrir que ñ tem como chegar ao mirante.
AGENTE: Não é possível... Por que o Iluminante faria isso?
BARBICHA: Eu disse desde o começo... Esse Iluminante é maluco, não deviam dar tanta credibilidade a ele.
AGENTE: Impossível, até agora passamos por diversos desafios, esse com certeza é mais um, eu irei escalar até chegar lá no mirante.
BARBICHA: Vc está louco? Já viu a altura dessa parede? Se vc cair pode ser fatal. Além disso, faltam poucos minutos para as 18h.

Agente tentou subir pela rocha agarrando pontas no rochedo, mas sempre escorregava e caia ou a ponta se soltava do rochedo fazendo Agente perder seu apoio. Ele olhava fixamente para a luz no mirante para acreditar que ainda tinha tempo. Escolhia estrategicamente onde se apoiar, mas continuava sem sucesso. Não conseguiu escalar mais que 1m. Estava cansado, mas seguia tentando. Então as luzes da casa se apagaram. Restara apenas o farol girando melancolicamente e ouviu-se bater de portas e correntes se trancando com cadeados.

BARBICHA: Passou das 18h, sinto muito Agente.
AGENTE: O q quer dizer?
BARBICHA: Vc viu o Aprendiz e eu dizendo... vc tinha até as 18h pra cumprir seu  objetivo, o seu tempo acabou.
AGENTE: Ora, mas que objetivo era esse afinal?
BARBICHA: Vc ñ esta vendo? Tinha que chegar lá no mirante até as 18h, pois é até esse horário q as portas estão abertas.
AGENTE: Eu cheguei tão perto...
BARBICHA: Não fique triste, afinal era impossível chegar lá em cima. É uma parede enorme, vc ñ sabe escalar e ñ tem um equipamento adequado. Essa frustração deve te mostrar que o Iluminante ñ é confiável, propõe coisas que ñ  podemos fazer.

Surge então detrás deles a voz de Aprendiz: "Vc ñ perde essa mania de contar mentiras, hein Barbicha"
Os dois olham pra trás e vêem Aprendiz se aproximando deles, mancando o pé que havia prendido entre as pedras

APRENDIZ: Vc sabe muito bem q Agente cumpriu seu objetivo.
AGENTE: Mas como? Já não há ngm no mirante e eu estou aqui embaixo ainda.
APRENDIZ: Seu objetivo ñ era chegar lá em cima. Vc devia ver akele mirante lá em cima, ver que é impossível escalar esse rochedo e ainda assim tentar cumprir sua meta, e foi exatamente isso q vc fez.
BARBICHA: Ora, mas no final ele ñ conseguiu cumprir a tal meta, só constatou q é impossível mesmo.
APRENDIZ: Muitas vezes Agente fica preocupado em conseguir, às vezes, é mais importante se preocupar em acreditar.

Agente consegue ver o farol a girar com outros olhos, não mais o farol monótono, mas sim constante e alerta.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Pequena saga da trilha (parte3)


Agente tirava fotos de pássaros sobre árvores e garças a beira de um pequeno lago. Já Aprendiz descansava aos pés de uma cachoeira. Naquele cenário de contemplação e relaxamento, a única coisa que destoava era a presença de Barbicha.

BARBICHA: Que tal prosseguirmos hein? Por acaso esqueceram que o Agente deve cumprir seu objetivo até as 18h?
APRENDIZ: Preocupe-se mais com o itinerário do que com o destino. Mas enfim, vamos em frente.

Continuaram então a trilha. Após alguns minutos de caminhada, encontraram um grande rochedo com uma pequena fenda de acesso ao lado de uma placa bem rústica onde se lia “VALE DOS MIL DRAGÕES: CUIDADO ONDE PISA”. Agente ficou pálido ao terminar de ler, pois se sentiu ameaçado com o “cuidado onde pisa” e a idéia de “mil dragões” tbm não parecia nada amistosa.

AGENTE: Tem certeza que precisamos passar por esse vale??
BARBICHA: A única certeza q tenho é q não preciso de mil dragões querendo me devorar.
APRENDIZ: Tenho certeza, o caminho é por aqui e devemos mesmo estar atentos aonde vamos pisar.
AGENTE: Como vc sabe disso? Já esteve nesse vale? Tem mesmo mil dragões lá??
APRENDIZ: Acredito que sejam mais de mil.
AGENTE: E há algum tipo de proteção contra esses sabe-se-lá-quantos-mil dragões?? Uma armadura, espada, escudo, canhão,...
APRENDIZ: Não.
AGENTE: E caso precise, tem algum medicamento lá? Curativos, talas, algo do tipo?
APRENDIZ: Também não.
AGENTE: Há pelo menos algum carro ou barco para passarmos por isso o mais rápido possível??
APRENDIZ: Iremos a pé.
AGENTE: Ah ótimo... sozinho, sem arma, sem proteção e a pé contra mil dragões furiosos cuspindo fogo em cima de mim. Quais as chances que eu teria de sobreviver a uma situação dessas?
APRENDIZ: Diria que remotíssimas.
AGENTE: Então por que eu ousaria passar por esse vale??
APRENDIZ: Pq vc deve vencer esse obstáculo para chegar ao mirante.
BARBICHA: Hum claro, o maravilhoso caminho do Iluminante nos conduziu a esse vale suicida, entendi. Só podia ser coisa do Iluminante...Quer dizer este é o cara que vc acredita nunca errar, Agente? Eu continuo com a idéia de q ele é um doido de primeira.

Agente ficou sem resposta. Afinal, estava certo de que ñ tinha chances contra um dragão, muito menos contra mil deles. Imaginou-se entrado no vale e entrou em pânico, ficou paralisado. Olhou para frente, vendo a placa ameaçadora, decidiu desistir e voltar. Então se virou para trás para retornar, viu o matagal do desconhecimento e lembrou-se da ponte do medo. Pensou na dificuldade dolorosa que lhe fornecera vida e força e assim conseguiu ver o vale de outra forma. Subitamente tomou coragem q ao olhar os dizeres “MIL DRAGÕES” sumiu subitamente, continuou indeciso. Viu Aprendiz entrando na fenda que conduzia ao vale e sem qualquer certeza do q estava fazendo entrou no vale tbm.

AGENTE: Mas que lugar é esse?

A fenda os levou a um corredor com uma montanha de cada lado e um calmo córrego fluindo entre elas. O córrego era o único lugar transitável e por ele corriam águas cristalinas sobre seixos rolados escorregadios e traiçoeiros, mas ainda assim admiráveis. Não se ouvia nada além das águas correndo pelas pedras sobrepostas.

BARBICHA: Malditos dragões, devem estar apostos nos cumes dessas montanhas preparando o bote fulminante.
APRENDIZ: Eu diria que vc deve procurar os dragões nos seus pés ao invés de olhar para os cumes.

Agente olhou para baixo e reparou que pelo córrego haviam criaturas coloridas com cerca de 25cm de tamanho nadando pelas águas cristalinas. Não tinha percebido antes pq eles se camuflam em meio a corais igualmente coloridos e lindos. Agora que reparara, viu que tinham beleza extraordinária, uns inclusive tinham o corpo revestido com algo semelhante a folhas, o que ajuda a camuflagem.

AGENTE: Que bicho é esse?
APRENDIZ: Chama-se Phyllopteryx taeniolatus e os folhados são os Phycodurus eques. Pra facilitar, vc pode chamá-los de dragão-marinho, deve haver mais de mil deles por aki.
AGENTE: Então esses são os mil dragões? E os dragões famintos cuspindo fogo em nós?
APRENDIZ: Não existem... Vc inventou essa ilusão e tomou isso como verdade.
AGENTE: Parecem inofensivos, mas não vou subestimá-los, com aquela ameaça de “cuidado onde pisa”... eles devem querer devorar nossos pés.
APRENDIZ: Acho q não, que eu saiba eles se alimentam de pequenos crustáceos e zooplancton, são inofensivos mesmo.
AGENTE: Ora, e pra que a ameaça então?
APRENDIZ: Não existe, vc tbm inventou isso. Akele “cuidado onde pisa” tem dois objetivos. Um é para que vc ñ pise nos dragões, o que certamente mataria eles. Outro é para vc ñ torcer seu pé nas pedras, pois esses seixos rolados realmente são traiçoeiros, portanto, cuidado onde pisa.
BARBICHA: Que coisa hein! Vc sabendo disso o tempo todo e nem para contar a ele! Que tipo de amigo brincaria de fazer alguém se sentir incapaz e com medo?
APRENDIZ: Minha intenção não é essa, mas mostrar que muito dos nossos medos e desafios são coisas que superestimamos, acreditando ser um risco maior do q realmente é. Agente acredita ter q enfrentar mil dragões, mas na verdade o adversário é a forma como se encara os problemas.
AGENTE: Essas águas cristalinas, esses dragões-marinhos, esses corais... Vc estava certo, Barbicha. Só podia ser coisa do Iluminante.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Pequena saga da trilha (parte2)


Buscavam recuperar o fôlego depois de tanto correr, mas havia também boas risadas e olhares triunfantes sobre o abismo que há pouco causava temor.

AGENTE: Hahaha eu não acredito que fizemos isso! Nós conseguimos!
BARBICHA: Vcs são loucos, corremos grande perigo. Sorte q a ponte não é tão fraca assim e aguentou nós três, deviam agradecer à pessoa q fez essa ponte.
APRENDIZ: O que fez a gente chegar aki não foi a ponte, foi a coragem.

Seguiram em frente e logo a trilha conduziu a uma floresta. A vegetação rompia os raios solares, de modo q o caminho era pouco iluminado. Chegaram a um ponto onde, à frente, a floresta era mais densa e havia diversas entradas de acesso à esse trecho aparentemente menos explorado. Não era uma floresta assombrada, mas não saber o que havia ali dentro causava horror.

AGENTE: E agora, como saberemos por qual entrada devemos ir?
BARBICHA: O seguro morreu de velho, é melhor ñ entrarmos em nenhuma, nós não sabemos o q vamos encontrar lá dentro. É melhor voltarmos pela velha ponte, sabemos q ela aguenta o nosso peso.
APRENDIZ: Eu acho que chega um ponto em que se ñ nos abrirmos à novidades, estaremos impedindo nosso aprendizado. Deve haver algo novo e bom para nós nessa escuridão.
BARBICHA: Pode haver algo mau tbm! O incerto sempre traz receio pq todo mundo sabe que cairemos ao lidar com o q é novo, pois é desconhecido! Não há nada de errado em desistir, vamos voltar!
APRENDIZ: Realmente não há nada de errado, e de fato cairemos. Mas há a opção de evoluir, q é o mais digno e correto. E se cairmos, podemos nos levantar.
AGENTE: E se não conseguirmos nos levantar? Ouço o salivar de uma serpente, uivos de lobos famintos, bater de asas de morcegos, tudo isso vindo desse matagal denso a nossa frente.
APRENDIZ: Veja quantas entradas há. Veja a infinidade de possibilidades. Se reparar bem, tbm irá ouvir o som de pássaros cantantes, uma calma cachoeira  e o gorjear de garças, tudo vindo desse matagal desconhecido.
BARBICHA: Ok sabe-tudo, então me diga como vc vai saber por qual entrada deve prosseguir.

Com um sorriso debochado, Aprendiz abre sua mochila e puxa um papel de dentro dela.

APRENDIZ: Aqui está o mapa com o caminho que o Iluminante nos sugere... Aponta para aquela entrada ali na direita.
BARBICHA: Ah sim, como se fosse simples desse jeito. Como vc vai saber se o Iluminante não se enganou e mostrou o caminho errado?
AGENTE: Acreditando que ele nunca erra.

Agente toma a frente e é o primeiro a entrar na parte mais densa. Era uma escuridão quase que total. Também era difícil se mexer e avançar, pois havia muito mato e galhos espinhentos. Agente anda cauteloso quando cada passo é uma incógnita, com freqüência se fere, mas conforme avança ganha mais convicção e passos mais firmes até mesmo que os passos conhecidos. Sentiu medo, quis voltar, pensou que se perderia, mas conseguiu acreditar.  Viu que adiante tinha luz, mas continuou indo devagar, pois ainda haviam galhos espinhosos. Enfim cruzaram o desconhecido.

BARBICHA: Vc ouviu?! Eles estavam lá! Salivar, uivos, bater de asas! Vamos sair daki, eles podem vir atrás de nós!
AGENTE:
Cansei de temer
Vai ser assim daki pra frente:
Dos lobos, vi os dentes
Também vi a língua da serpente
Medo vai virar poesia
Assim, de repente.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Pequena saga da trilha (parte1)


Lá estava Aprendiz, no sopé a espera de Agente, atrasado como de costume. Quando chega, imediatamente interrogado:

APRENDIZ: Vc trouxe tudo?
AGENTE: Sim, trouxe água, comida, repelente, ta tudo aki.
APRENDIZ: Cadê o mapa que vc ia pedir ao Iluminante?
AGENTE: Putz...
APRENDIZ: Imaginei rsrs... olha, vc deve aprender a pedir... Aqui está o mapa, eu peguei antes de vir.

Ouve-se então uma terceira voz: "Ótimo, então vamos. Não há tempo a perder"

AGENTE: Ah não! Ele não! Vc o convidou, Aprendiz?
APRENDIZ: Claro que não, mas infelizmente é inevitável, ele sempre vai querer dar um jeito para vir fazer suas sugestões .
BARBICHA: Oi pra vc tbm Agente... E realmente não há tempo a perder, não sei se o Aprendiz te disse, mas o Iluminante quer q vc chegue no mirante até as 18h.
AGENTE: Ora, mas pq as 18h?
BARBICHA: Sei lá... aquele cara é meio biruta... Talvez seja pq o mirante fica aberto ao publico só ateh esse horário

Começaram então os três sua empreitada rumo ao topo. Algum tempo de caminhada e se depararam com um grande abismo. Havia uma pequena ponte de madeira amarrada com corda em mal estado e aparentemente muito antiga q balançava assustadoramente devido ao vento que uivava nos ouvidos dos três.

AGENTE: Só pode ser brincadeira neh?! Eu não vou chegar nem perto dessa ponte velha.
APRENDIZ: Segundo o mapa é por aqui mesmo que devemos passar.
BARBICHA: Ok, mas há outros modos de passar o tempo que não seja arriscar a vida numa ponte em ruínas né? Vamos voltar!
APRENDIZ: Certamente haverá algum aprendizado quando chegarmos do outro lado da ponte.
AGENTE: É sério? Vc quer mesmo atravessar isso? De onde vc arranja tanta coragem?!
APRENDIZ: Estou com tanto medo quanto vcs. Mas devem se lembrar que foi Iluminante quem nos deu esse mapa, se ele direciona para essa ponte velha, é pq é desse modo que iremos aprender algo nesse dia.
BARBICHA: Não podemos aprender alguma outra coisa algum outro dia?! Algo que não envolva pontes, abismos, nem riscos.
APRENDIZ: Sim... dessa forma vc não cái, mas tbm não chega no alto. Ficará reclamando e lamentando para sempre. O chão parecerá uma segurança, mas na verdade será uma prisão.
AGENTE: Está claro que essa ponte não vai aguentar, como farei para atravessar isso?
APRENDIZ: Sendo corajoso e audaz.

Aprendiz puxa Agente pelo braço e adentra a ponte correndo em disparada. O coração de Agente pulsa tão acelerado quanto a corrida pela ponte. Ele grita, olha para baixo, não acredita que está no meio da ponte. Quando Agente está numa situação difícil, intuitivamente pensa ser impossível e imprudente encarar, mas com determinação e confiança em algo maior, Agente consegue não se subestimar. Foi a essa conclusão que Agente chegou quando chegou ao outro lado da ponte velha com Aprendiz. Já Barbicha foi caminhando calmamente pela ponte e resmungando de alguma coisa.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O jardim da Natureza


Agente anda procurando o destino. Olha o endereço no papel em sua mão e enfim localiza a casa. Era uma casa de cercas brancas em madeira com um caminho de pedras sabão que cortava um lindo jardim. E no meio desse jardim lá estava ela, alta, formosa e com um vestido descontraído regando um girassol maior que os girassóis normais.

AGENTE: Bom dia, Natureza. Estou precisando muito dos seus conselhos.

Ela responde com um sorriso maternal:

NATUREZA: Olá, querido. Como tem estado?
AGENTE: Estou bem, mas angustiado. Sinto que está na hora de dar prosseguimento à minha vida, mas não sei quem poderia me acompanhar nessa doce tarefa.
NATUREZA: "Poderia"...O futuro do pretérito é um tempo muito incerto para algo tão urgente como a sua felicidade. Pense em possibilidades e não em especulações.
AGENTE: Como farei isso? Até que ponto um desejo deixa de ser sonho e vira utopia?
NATUREZA: Na medida em que não há recíproca da outra parte...ou da sua.
AGENTE: E quando não se sabe se é recíproco? E se a recíproca de um depende da recíproca do outro? Como que resolve??
NATUREZA: Antes de pensar em reciprocidade, Agente deve pensar no que se pode oferecer e no que se espera receber. Até mesmo o amor tem seus princípios básicos: vc não deve ficar com quem vc não quer ficar, caso contrário pode causar um sofrimento desnecessário, esse vc já está aprendendo, e também é conveniente que vc fique com quem queira ficar com vc, esse está na hora de vc assimilar.

Agente levantou a sobrancelha direita surpreso, mas depois reconheceu que Natureza estava certa.

AGENTE: Ok, é uma teoria muito simples, mas na prática é complicado, lidar com sentimentos é complicado...
NATUREZA: Você deve tornar seus sentimentos mais racionais, o equilíbrio sempre ajuda a sabedoria. - ela abriu a mão direita e mostrou a Agente duas sementes, jogou-as uma em cada lado e regou a da esquerda - Você vê que nada acontece regando essa semente. E se a que germina for a semente da direita? E se quando eu perceber isso já ñ tiver água no regador? E se enquanto rego inutilmente essa da esquerda alguém me tomar a semente boa? - ela virou para regar à direita e como mágica brotou uma flor da terra.
AGENTE: E se eu quiser tanto a semente da esquerda de modo que isso faça ela germinar?
NATUREZA: Seria mais uma dentre as diversas possibilidades. Você também pode continuar arriscando, mas sei que sua disposição para isso não é mais a mesma.

Agente olhou para baixo e depois para o lado. Arranjou coragem e olhou para Natureza:

AGENTE: Arriscando tenho medo de ser ferido e sendo racional tenho medo de ferir!

Com outro sorriso materno ela responde:

NATUREZA: Esse medo é o que te deixa estagnado. De um modo ou de outro haverá feridas, elas fazem parte da vida, não tem como fugir disso. Ou vc as encara ou ficará fugindo correndo delas, que na verdade só te deixará parado.